domingo, 15 de maio de 2011

Crítica: Janela Indiscreta



Quando se pensa em Hitchcock consequentimente se pensa em suspense. Não é a tôa que ele é considerado um dos grandes diretores que possui o título de: mestre do suspense.
Dirigiu filmes como Festim Diabólico (1948), Psicose (1960) e Pássaros (1963). Em Janela Indiscreta (1954) expõe o público ao vouyerismo já existente em todos aqueles que assistem a um filme, mas que com o uso da câmera subjetiva, nos prendendo em seus filmes.

Em Janela Indiscreta, o fotógrafo profissional J.B. Jeffries (James Stewart) está em uma cadeira de rodas por causa de uma perna quebrada e é obrigado a ficar preso dentro do seu apartamento. O seu tédio vai aumentando, surge uma obsessão em observar a vida dos seus vizinhos pela janela.  Quando começa a suspeitar que o vizinho vendedor possa ter matado a própria mulher, Jeffries conta com a ajuda de sua namorada Lisa (Grace Kelly) para desvendar esse mistério.

Esse filme nos dá uma impressão de estarmos em um espetáculo de teatro, é como se as cortinas estivessem sido abertas e a 'vida alheia' seria o grande espetáculo.
A câmera subjetiva é o plano de câmera mais importante nessa obra. É ela que nos coloca sob a ótica do personagem principal, conferindo-nos a própria pele de um vouyer. Como um grande diretor que é Hitchcock não comete o erro de deixar apenas a visão da câmera subjetiva, ele sempre mostra a reação de “Jeff” a tudo que ele está vendo. Devido a esse fator o público pode se identificar com o herói.

É com a câmera subjetiva que testemunhamos outro ponto interessante no filme de Hitchcock: as sub-tramas perpetradas pelos vizinhos do personagem principal. Há a bailarina amadora, o casal recém-casado, a mulher solitária, o pianista, o casal com o cachorro, a velha artista plástica excêntrica e o vendedor suspeito com sua mulher enferma.
A surpresa acontece quando o público é arrebatado por algo que não esperava que acontecesse, enquanto que o suspense é algo que o público conhece, mas que a personagem desconhece. Exemplo de surpresa nesse filme em particular é a seqüência em que todas as suspeitas pareciam infundadas e de repente um grito alerta para a morte inesperada do cachorro. O suspense bem explícito é a seqüência onde a personagem de Grace Kelly está dentro do apartamento do vizinho e apenas o público, juntamente com Jeff e sua enfermeira sabemos que o possível assassino chegou a casa.

Lisa (Grace Kelly), no decorrer do filme cresce como personagem, quer mais do que tudo ajudar seu namorado a desvendar o mistério do vizinho vendedor, ela entra dentro da trama e acaba agindo de maneiras que não são muito esperadas pelo público, pois no início do filme Lisa tem um extereótipo de patricinha, fútil, despreocupada com tudo que não seja ela própria.


Durante seus 112 minutos, Janela Indiscreta é um filme que possui um enredo impar, pois oferece uma trama reflexiva, envolvente, que brinca com a imaginação e com a realidade o 'pode ser', 'será que é?'.
É quase inevitável não ser levado a concordar com Jeff, já que os desdobramentos da história são filtrados pelo seu olhar, mas Hitchcock não se vale de maniqueísmos, e Stewart constrói um personagem fronteiriço entre a bondade e a implacabilidade. Na sua necessidade de distração, Jeff acabou por se agarrar ao caso que lhe surgiu da janela de sua casa, mesmo que estivesse cometendo um terrível engano.

Com um fim interessante, Janela Indiscreta é um 'clássico', por suas qualidades mais que explícitas.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

As mulheres de Almodóvar parte I



  Todas as mulheres retratadas em uma só, assim se poderia caracterizar a maioria dos personagens diretor e roteirista tão singular Pedro Almodóvar.
   O cinema tenta de todas as formas suprir os desejos do público amplo, alimentando, construindo os sonhos da vida contemporânea. Contudo Almodóvar procura através de fatos do cotidiano sempre com autenticidade, atitudes polêmicas, fugindo totalmente do comum, intrigando as pessoas com o que relata e da forma relatada, as mais diversas situações em seus filmes.
A ironia é a marca da sua autonomia. Comédia, drama, melodrama sempre bem representados através de personagens femininas das mais diversas características.
   Não basta ter sensibilidade e sagacidade no campo artístico, tem que possuir inteligência, talento, determinação e essas características estão presentes no trabalho de Almodóvar.
   Inicialmente, registra-se que, a matéria prima de seus filmes é a classe média espanhola, no início da década do consumo, com seus dramas e misérias.
   Almodóvar, autor de dezesseis longas metragens, ganhador do Oscar em 2000 como melhor filme estrangeiro com “Todo sobre mi madre”, seu primeiro longa metragem foi em 1980 com “Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón”. Suas abordagens em seu primeiro filme provocaram escândalo e admiração de amplos setores na Espanha, devido a poucos recursos financeiros, desenvolve o filme com o que tem, obtendo ajuda de amigos para concluir esse trabalho. Seu penúltimo filme foi Volver (2008), um filme que retrata três gerações de mulheres que sobrevivem ao vento, ao fogo, à loucura, à superstição e, inclusive, à morte. Segundo Almodóvar“Volver não é uma comédia surrealista, apesar de parecer em alguns momentos. Vivos e mortos convivem sem estridências, provocando situações hilariantes ou de uma emoção intensa e genuína. Volver é um filme sobre a cultura da morte.”

Pedro Almodóvar quebra paradigmas, buscando retratar as mulheres de uma forma diferente, sem seguir o padrão da mídia em geral.
   Solidão, ironia, ousadia o acompanham em suas relações e simultaneamente, compõe sua personalidade que é transmitida em seu trabalho.
   Fugindo da concepção Hollywoodiana de que o cinema é apenas entretenimento e outras leituras não signifique muita coisa, Almodóvar em meados de 1985 surgiu, inovando, fez uma reciclagem das produções do seu período para mostrar suas novidades, um estilo diferente de fazer cinema, causando certo desconforto em relação aos rótulos impostos pela crítica e mídia em geral. Tendo como temas a sexualidade livre, o resgate do cotidiano, as pessoas comuns, rejeitando-se o “cinema de arte” dos anos 50. Retratando a sensualidade na cultura Espanhola, no tom de voz, nas danças flamencas, nas touradas – como no filme Matador (1986)- buscando mostrar o feminino de uma forma livre, simples ao mesmo tempo detalhada.
   Nas suas obras aparecem personagens ou atitudes não convencionais, quebra de valores morais, paixões excêntricas, compondo personagens atípicos e inusitados que fogem as regras tradicionais do comportamento humano.
   A questão do gênero é bem presente, o feminino e o masculino, contudo nesse projeto a questão principal é como a mulher é retratada, suas atitudes em relação ao círculo social em que pertence, como Almodóvar mostra isso, a singularidade dele, pois no cinema Hollywoodiano a mulher em geral é vista como símbolo sexual e nada mas, além disso.
   Filmes com histórias girando em torno de problemas de relacionamento, sobre amor-desamor, ciúmes, traição e de não colocar peso político em primeiro plano. A captação do cotidiano, problemas que parecem sempre intransponíveis, reconhecendo o problema, mas algumas vezes o encarando satiricamente, personagens muitas vezes toxicômanos, a dependência pelas drogas mostrada na maioria de seus filmes, uma eclosão de vários estilos, bem expressivos, havendo uma liberdade nas narrativas (...)

Texto extraído do meu pré-projeto de iniciação científica.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A chegada do Trem


Filme: “A chegada do trem à Estação” - Lumière (1895).
   O primeiro filme produzido pelos Irmãos Lumiére foi exibido em Paris e com ele trouxe muito espanto para os espectadores. A reação de terror do público foi intensa, eles pularam de suas cadeiras ou gritaram, ou se levantaram e correram para fora do auditório pois muitos acreditavam que o trem iria tomar forma real e sair da tela. Os primeiros espectadores eram, de acordo com esses mitos, ingênuos e defrontavam-se com as imagens ameaçadoras e violentas sem defesas, sem qualquer tradição a partir da qual entendê-la.
Houve uma confusão entre realidade e imagem.
   A platéia era de sofisticados citadinos em busca de prazer, cientes de que estavam vendo as mais modernas técnicas do ofício teatral; oscilação entre convicção e dúvida.
As primeiras projeções de Lumière, os filmes eram apresentados inicialmente como imagens congeladas, projeções de fotografias imóveis.
O que exposto diante da platéia não é tanto o avanço iminente do trem mas a força do aparato cinematográfico.
A transformação da fotografia imóvel na ilusão do movimento, surpreende os espectadores e ostenta o fascínio pelo cinematográfico e sua novidade.  
   A maioria das primeiras projeções, um monólogo era proferido, acompanhando o espetáculo, preparando a platéia para o filme e criando uma atmosfera dramática.
Essas falas antes das projeções, criava uma atmosfera de expectativa, uma curiosidade fermentada com ansiedade, ao salientar as novas e surpreendes capacidades da atração preste a aparecer. Gerava grande impacto com as primeiras projeções, era algo totalmente novo para a sociedade.
   Esse cinema que precede o domínio da narrativa (e o período dura quase uma década até 1903 ou 1904) é chamado de “Cinema de Atrações.”
Esse cinema de atrações exige uma certeza inteiramente cinematogŕafica engajando a curiosidade do espectador. O espectador permanece “consciente da ação do olhar”, da exitação da curiosidade e de sua satisfação.
Esse cinema lança-se ao encontro de seus espectadores por meio de inúmeros recursos formais, que vão desde a colisão sugerida pelos primeiros filmes de trem até um estilo praticado no mesmo período, em que os atores se inclinavam e gesticulavam para a câmera (exemplo: Méliès).
Os primeiros curtas-metragem são fascinantes. Méliès utilizava muito o surrealismo, dadaísmo, a mágica era sempre presente, os 'efeitos especiais' eram muito utilizados,  os espectadores ficavam fascinados com o fato de um personagem desaparecer no meio da cena e depois voltar.
A questão do enquadramento da camêra é singular, pelo fato delas serem grandes e pesadas não havia possibilidades de movimentá-las, logo toda a cena acontecia em um enquadramento só, os personagens se movimentavam apenas naquele espaço e tudo acontecia ali, por isso que os primeiros curtas tinha objetovs em movimento como trem, pessoas andando e etc.
A expressão dos atores era intensa, pois como o cinema era mudo eles abusavam dos gestos, expressões faciais.
O início do cinema, os primeiros curtas, as primeiras descobertas é extremamente fascinante. Compará-lo com o que é hoje e aonde chegou é incrível pois pela época em que 'nasceu' (1890 mais ou menos), já estava avançado.

fontes:

Uma estética do espanto” - Tom Gunning

Ben Singer “Modernidade, hiperistímulo e o início do sensacionalismo popular.”


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sob outra lente

Mais um blog que aborda o Cinema, essa é a intenção de "Sob outra lente". Tentar captar o que um filme quer transmitir sem cair no senso comum, sem ser apenas mais uma crítica que vai repassar informações que já estão explícitas, requer sensibilidade e um pitaco de paixão pela sétima arte. Nada de profissional, apenas por amor mesmo, curiosidade, buscar interpretar o que o cinema tem de tão especial, o que tem por trás de cada filme, tentar capturar o que o diretor quis passar através de cada cena, em qual contexto foi feito tal filme, buscar um outro olhar, eis o grande desafio. Cansada da mesmice, buscando algo a mais, mergulhar em águas profundas sem saber o que nos espera e esperando encontrar algo, seja lá o que for, mas que mude uma visão, um ângulo que até agora foi mantido. Cinema francês, alemão, inglês, iraniano e até mesmo o tão venerado hollywoodiano, que aqui será apenas mais um e não o ator principal. Tentarei dar mais ênfase ao inusitado, ao que está fora do comum (Hollywoodiano), o tal do 'alternativo' que hoje em dia está meio clichê (confesso). Uma visão de pseudo socióloga - em graduação - de amante do cinema, de mulher, de curiosa e de aprendiz. “O cinema é a forma de arte que acompanha a ameaça crescente à vida que o homem moderno tem que enfrentar. A necessidade do homem de se expor aos efeitos do choque é o seu ajustamento aos perigos que o ameaçam” Benjamim. Enfim, vamos analisar o cinema :)