quarta-feira, 22 de junho de 2011

Crítica: Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

Confesso que comédia romântica não é o que me atrai, mas vindo do diretor Woody Allen, coisa ruim não seria.
"You Will Meet A Tall Dark Stranger", (2010) conta a história de dois casais: Alfie e Helena (Anthony Hopkins e Gemma Jones) e Sally e Roy (Naomi Watts e Josh Brolin), ambos casais estavam infelizes com a situação afetiva, Alfie abondona sua esposa Helena depois de 40 anos de casamento, pois passa a se achar um jovem e quer aproveitar cada segundo de sua vida como um menino. Casa-se com uma ex garota de programa Charmaine (Lucy Punch), bem mais jovem que ele, e a moça aproveita a paixonite do homem para renovar seu guarda-roupa e aproveitar do velho.
Sally, filha de Alfie está infeliz com seu casamento, porque seu marido - um escritor que já passou o apse de fama - não possui uma renda que dê para o casal e também a moça acaba se apaixonando pelo seu chefe Greg (Antonio Banderas). Sally, cada vez mais encantada com o seu chefe que a trata extremamente bem, "cai do cavalo" ao ver que o mesmo nunca a viu com outros olhos e acaba se envolvendo com a sua amiga.

Seu marido sem saber de nada, passa a observar a "moça que só veste vermelho", uma vizinha simpática e quando vê, os dois estão completamente apaixonados.


Woody Allen com seu estilo peculiar vai desnudando as consequências das atitudes dos atores, aos poucos.
Um destaque especial para Helena (Gemma Jones), a interpretação dela foi ótima, com uma carga dramática no olhar, ela vai perdendo a realidade e entrando em um mundo que a torna uma pessoa mais esperançosa, após passar tarde com Cristal, uma vidente charlatona.

O filme vai tomando uma direção surpreendente, a narrativa vai tomando um caminho inverso e Woody Allen consegue fazer com que o filme transmita uma sensação de "cadê o final feliz?" e quebra esse paradigma de comédia romântica com final feliz.
Os caminhos que passam ser traçados pelos personagens, são caminhos sem volta e fica muito claro no filme que VOCÊ NÃO VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS NESSE FILME!


A frase do começo do filme: A vida é cheia de Som e Fúria, e, no final, isso não significa quase nada." William Shakespeare, fica clara quando o filme acaba.
Woody Allen consegue tornar viva essa frase através do filme, com cada desfecho de cada história.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Crítica: A culpa é do Fidel




Julie Gavras, diretora do filme "La faute à Fidel", conseguiu retratar muito bem de uma maneira sensível a visão de uma menina de 9 anos, Ana (Nina Kervel-Bey), sobre o Comunismo.
Ana de La mesa (Nina Kervel-Bey) mora em Paris e leva uma vida regrada. Estudante de uma Escola Católica, possui avós conversadores de classe alta. Seus pais após a morte de seu tio que era militante na Espanha, com a vinda de sua tia e prima para sua casa, reacendem a chama da militância.
Ao voltar de viajem do Chile, logo após a eleição de Salvador Allende os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo. A menina é a que mais sente essa mudança. Seu irmão François, se acostuma rapidamente com a nova realidade e até gosta da forma em que é dada essa mudança.
Seus pais ficam mais engajados politicamente, mudam para um apartamente pequeno, mudam seus hábitos, o círculo social também muda. Com frequência os comunistas se reúnem no apartamento e discutem sobre a militância.
Ana fica confusa, se depara com uma realidade muito diferente do que está acostumada.
Seu conforto foi tirado, a alimentação muda, os valores de seus pais batem de frente com a pequena cabeça da menina e ela resiste a nova situação.
O atrito entre eles é constante, principalmente com o seu pai que a apelida de pequena-múmia (é como os chilenos chamavam os reacionários em seu país).
O filme deixa claro a confusão mental que a menina enfrenta, sua babá induz a idéia que os Comunistas são "barbudos vermelhos" querem uma guerra nuclear e querem roubar as casas e os bens das pessoas boas. Ana fica com isso na cabeça e começa a questionar isso.

O convívio com os comunistas a deixa intrigada, a pequena Ana vai aos poucos começando a questionar suas próprias crenças e certezas o que, obviamente, começa a fazê-la confrontar os reacionários que a influenciavam, principalmente as freiras católicas.
Suas babás mudam constantemente (são refugiadas de guerra ajudadas pelos pais), com cada babá ela aprende algo novo e isso a intriga muito mais. A política internacional atinge a menina em vários aspectos, desde as babás até a proibição de ler Mickey Mouse (seu pai o considera uma facista), até a tomar coca-cola ou qualquer outro produto vinculado ao imperialismo norte americano.
A diretora Julie Gavras, sendo filha de franco-grego Constantin Costa Gavra, só poderia mesmo demonstrar essa inclinação política. Julie, cineasta de esquerda, retrata como ninguém a cultura de esquerda dos anos 60 e 70, mas pelos olhos dos filhos dos militantes o que é algo muito interessante, pois como toda criança Ana não tem receio em pergunta (seja pra quem for) para que suas dúvidas sejam tiradas.
A culpa é do Fidel, não deixa de ser uma modalidade (cômica) que se destina a demonizar a esquerda, apontá-la como todo mal da humanidade, um idéia de um bando de rebeldes desorientados.
 Aos poucos, Ana vai vendo que a realidade não é como os pequenos-burgueses ou até mesmo as pessoas simples (que são condicionadas pelo sistema), retratam o Comunismo e no final ela se convence que existe algo além do "eu, eu eu" que ela está tão acostumada a falar (o tal do individualismo).
Julie Gavras, fez um apanhado histórico sem perder a ternura e conseguiu transformar "A culpa do Fidel" em um filme sensacional.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Crítica: Filhos do Paraíso


"Bacheha-Ye aseman" (Filhos do Paraíso), é um filme dirigido pelo Majid Majidi e lançado no ano de 1997 no Irã, foi candidato ao Oscar 1999 de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 88 minutos de filme, é retrato a história de Ali (Amir Farrokh Hashemian), que é um menino de 9 anos proveniente de uma família simples e que vive com os pais e uma irmã Zahra (Bahare Seddiqi).
Um dia ele perde o único par de sapatos da irmã e, tentando evitar a bronca dos pais, passa a dividir seu único par de tênis com ela, ambos passam a revezar o tênis.  Enquanto isso Ali começa a treinar para obter uma boa colocação em uma corrida que terá como prêmio uma quantia dada para comprar um novo par de sapatos.
De uma forma delicada o diretor Majid Majidi demonstra a precariedade que a maioria das pessoas do Irã se encontram, mostra bem sua cultura, as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora dentre outras questões.

Majid Majidi em uma entrevista a um jornalista expõe as dificuldades que os cineastas tem para produzir filmes no Irã.
Desde que Ahmadinejad chegou ao poder em 2005 o cineasta não filmou mais. Para se produzir um filme no Irã há muitas questões envolvidas. Sem permissão do governo, você não filme, o governo detém um monopólio sobre os estoques de películas e equipamentos, logo todo cineasta tem que ir até eles para alugar esse equipamentos. O cinema só exibe o que o governo deixa, e os sete canais de TV são estatais.
O governante foi eleito duas vezes - uma vez em 2005 e depois em 2009 sob suspeita de fraude - concentrou tudo em suas mãos, principalmente os meios de comunicação conforme sua ideologia, exerce um poder coercitivo sob os indivíduos, reprimindo totalmente quem se opõe a sua maneira de fazer política e seus métodos utilizados.



Mesmo sem a liberdade de fazer filmes, principalmente se possuir caráter político, o filme Filhos do Paraíso retrata um Irã que não se mostra com muita igualdade entre os indivíduos.
A pobreza em que a família de Ali se encontra, a grande dificuldade em pagar o aluguel, comida escassa na família, precariedade na questão da saúde como é retratado no fato da mãe de Ali estar doente e não ter alternativas de buscar auxílio em hospitais e a lutando diariamente para manter suas necessidades básicas atendidas.
Apesar das dificuldades sofrida pela família, o filme mostra um lar aonde existe amor e apoio de todas as partes. Os filhos que são extremamente novos mas já possuem consciência que a situação está difícil e não querem preocupar os pais com a questão da perda do par de sapatos de Zahra, a solidariedade entre os vizinhos quando a mãe de Ali cozinha para o casal de velhinhos que mora ao lado.
O que marca nesse filme é a questão da honestidade. Quando o pai do garoto está cortando em cubos o açuçar que não o pertence, a filha está preparando chá para o pai, nota a falta de açucar na casa e acaba dizendo:
- Tem bastante açucar ai.
O pai diz "Mais esse não é nosso!"
Em outra cena podemos observar também a questão da honestidade, quando a garota Zahra deixa cair a caneta que ganhou do irmão, a colega de escola pega no chão e no dia seguinte a devolve - detalhe que a menina que encontra a caneta também é de família carente e acaba gostando da caneta.

Como os protagonistas desta sua obra, o diretor cresceu vivendo com seus pais e quatro irmãos em um único quarto. Segundo ele explicou:
"Em toda sociedade, existe sempre o problema de 'ter' ou 'não ter', o que cria um monte de conflitos. No momento, esse é o problema mais significativo de nossa sociedade. Nós estamos oscilando entre problemas econômicos e falta de justiça social. É missão da arte continuar a atacar esses problemas, enquanto eles permanecerem."Em "Filhos do Paraíso", adultos e crianças, ainda que pobres, não abdicam de sua dignidade.
A honestidade em meio a pobreza é marcante no filme.

Filhos do Paraíso é um filme extremamente interessante que retrata questões que envolvem todos nós e mostra uma cultura totalmente diferente que estamos acostumados, mas aonde a dignidade e o caráter de alguns mostra a diferente em um sociedade tão suja.

Para mim, é um dos melhores filmes iranianos!