terça-feira, 13 de novembro de 2012

A representação do feminino no filme "São Paulo S/A"

Filme São Paulo S/A diretor: Luis Person


São Paulo S.A (Luis Sergio Person, 1965) é um dos primeiros filmes que levantam vários problemas referentes a classe média na cidade de São Paulo. O filme problematiza as consequências que o desenvolvimento da indústria automobilística causa. Percebemos que os personagens escolhidos não foram homens ricos, mas sim indivíduos de classe média, montando pequenas fábricas que vivem na dependência da grande indústria. Os donos dessas pequenas fábricas enriquecem a custa da inflação e de manobras desonestas no desenrolar do filme (BERNADET p. 137, 2007).
Vamos nos ater a analisar como as mulheres são retratadas nesse filme. O italiano Arturo (Otelo Zelloni), é casado, tem filhos, aparentemente é um bom pai de família, é uma figura simpática, trata bem sua esposa, mas possui belas amantes, modelos, mais novas que ele, circulando com elas nos espaços públicos enquanto sua esposa fica reclusa em sua casa, desempenhando seu papel de mãe. Nessa questão, a rua pode representar um local onde mulheres casadas, mulheres “sérias”, não frequentam, tendo em vista que praticamente todas as vezes que a esposa de Arturo aparece no filme, ela está no lar, sempre em companhia dos filhos, e quando seu marido está na rua, nos bares, restaurantes, ele está acompanhado das amantes.
Para esse aspecto, a polaridade casa versus rua nos chama atenção. Como se o mundo interno fosse feminino e o mundo externo masculino, podemos considerar a casa como uma prisão para as mulheres, ou um lugar seguro, onde a mulher está segura, remete a proteção do ninho pertencente às mulheres. Essa questão remete também à concepção de rua como local da interação social e do controle e também ao seu entendimento como o espaço dos desejos e ansiedades. A dicotomia virgem-prostituta é presente também, pois a mulher “virgem” se encontrava em casa e as prostitutas, que estavam sempre na rua, nos bares, bailes, circulando nos espaços públicos.
Em São Paulo S/A o personagem principal é Carlos (Valmor Chagas). Ele trabalha no escritório do Arturo. Após cursar desenho industrial, entrou para a seção de controle da Volkswagem. Carlos tem várias amantes, mas não estabelece uma relação sólida com nenhuma delas, não consegue dominá-las e nem render-se a elas; namora Luciana (Eva Wilma), moça de família conservadora, classe média. Carlos a conhece no curso de inglês e no desenrolar da história, eles se casam. No filme, percebe-se que Carlos quis casar não pelo “amor”, muito menos pela noiva – apesar de Luciana ser uma mulher nos moldes da sociedade patriarcal, Carlos foi levado a casar devido à solidão que sentia. Sobre isso, BERNADET (2007) diz: 
Casar ele quis, não pela noiva, nem pelo casamento. Levado pela solidão freqüentou Luciana, moça casadoura, e acabou preso na engrenagem familiar. Mas também não resistiu. A evolução é normal e não requer escolha especial por parte do interessado: tendo sua vida profissional mais ou menos fixada, podendo assegurar o aluguel de um apartamento inicialmente pequeno, o paulista classe média, de 25-30 anos, casa: assim é o ritual. (Bernadet, p. 135, 2007).


Através da análise de Jean Claude Bernadet, percebe-se que não apenas a mulher se sentia pressionada em constituir uma família, o homem, quando chegava a certa idade, sentia-se pressionado a ter um casamento, filhos, estabelecer uma relação padrão de relacionamento.
 Luciana, em vários momentos do filme, demonstra a admiração por Arturo, o vê como modelo em que Carlos deveria seguir, pois Arturo é bem sucedido, pai atencioso, aparentemente ótimo marido, e Luciana projeta seu marido na mesma posição de seu chefe, Arturo. Mal sabe ela da vida que Arturo leva, de suas amantes e da maneira com que enriquece.
Fazendo uma análise da personagem Luciana, da forma com que ela age perante as grosserias que seu marido faz, a maneira na qual ele a trata, com desprezo, descaso, como se ela fosse um peso, ela nunca reage, não questiona as atitudes dele, não cobra uma postura diferente. Na maioria das vezes, se porta como submissa como submissa, principalmente quando Carlos diz que vai embora, que cansou da vida que estava levando, cansou dela, de seu filho, Luciana tenta o impedir de sair, diz para ele “parar de besteira”, como se ela precisasse da presença dele ali mais do que tudo, demonstrando um amor incondicional, independente de como ele a trata, ela o quer por perto. A figura de vítima e impotente é atribuída a ela, impotência porque nem ela sendo uma esposa modelo, não conseguiu “segurar” seu marido no casamento, no lar.
Rosália Duarte (2009) chama-nos a atenção para o seguinte aspecto no que diz respeito à mulher e o cinema:

A mulher é, quase sempre, coadjuvante. De um modo geral, o protagonismo feminino em narrativas fílmicas é fortemente marcado por definições misóginas do papel que cabe às mulheres na sociedade; casar-se, servir ao marido, cuidar dos filhos, amar incondicionalmente. Mulheres livres, fortes e independentes são freqüentemente apresentadas como masculinizadas, assexuadas, insensíveis e traiçoeiras. São comuns as situações em que elas atuam como o elemento desestruturante, como a força de ruptura na narrativa. (DUARTE, 2009 p.46-47)

            Outras mulheres do filme são as amantes de Carlos, Hilda (Ana Esmeralda) e Ana (Darlene Glória). Ana passa por várias camas, tem como objetivo subir na vida, colocando seu charme a disposição da publicidade automobilística. É sempre retratada como a mulher fatal, sexy e ao mesmo tempo, Ana transmite a imagem de mulher livre, pois nos tempos livres ela procura se divertir, vai à praia com os amigos, não se importa com o que Carlos pensa. Isso fica claro na cena em que ela sobe em uma lancha de uns amigos e deixa Carlos sozinho na praia.
            Hilda, de condições financeiras mais elevadas, demonstra que nada satisfaz sua angústia, sua vontade de ser amada intensamente, de verdade. Em uma de suas falas Hilda diz: “Carlos, você não é e nunca será meu amante”. Como se Carlos não fosse digno, não conseguisse saciar o vazio em que Hilda se encontrava no que resultou em um suicídio.
      Com isso, percebemos que o filme de Luis Sergio Person, além de retratar questões emblemáticas que o desenvolvimento industrial - onde o capitalismo passou a reger todas as relações, e tudo passou a girar em torno dele, o que esses aspectos causaram na sociedade, é um prato cheio para analisarmos como as mulheres eram vistas e retratadas no cinema brasileiro, por um olhar masculino – tendo em vista que o diretor do filme é um homem e que todos os cineastas da época eram homens - a busca que essas tinham por uma identidade num período em que não tinham voz, e que estavam limitadas ao âmbito familiar; sendo vistas desempenhando apenas uma função: de donas-de-casa.
          O que podemos ver em São Paulo/SA é um cinema que expõe a situação que as mulheres se encontravam no Brasil, fragmentos e faces da realidade dessas. As angústias das personagens – e dos personagens, pois a industrialização causa mudanças nas estruturas sociais, econômicas e familiares dos indivíduos, os dramas e nesse contexto, as mulheres buscavam suas identidades, tentando romper com o patriarcado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Crítica: A pele que habito




O que esperar de um novo longa metragem do diretor Almódovar? Fortes e inesperadas emoções.
Confesso ser fã dos filmes de Pedro Almódovar, principalmente da maneira em que ele retrata temas que muitas vezes são rejeitados pelos diretores, de uma forma totalmente singular.
O novo longa de Almodóvar "A pele que habito", a sua musa Penelope Cruz é substituida por Elena Anaya, outra ótima atriz que já havia trabalhado com o diretor, no filme Fale com Ela. Banderas, como sempre, parece se encaixar perfeitamente nos filmes de Almodóvar.

O filme gira em torno de Robert Legard (Banderas), um cirurgião plástico renomado que, após um acidente com a esposa Gal, fixa seu conhecimento em desenvolver uma pele humana que seja totalmente resistente a qualquer tipo de dano, contato com fogo e etc. Robert mantem uma relação com a prisioneira misteriosa Vera (Anaya), os dois têm uma relação que gira em torno de amor, ódio, rancor, raiva, calma, muitos sentimentos juntos devido a história de Vera e da influencia que o cirurgião teve na vida dessa.
A maneira com que Almodóvar vai relevando os segredos de cada personagem, é incrível, pois a ligação que esses possuem é grande, mas só aos poucos é revelada e as peças vão se encaixando como se fosse um quebra-cabeça.


Podemos observar em A pele que habito várias caracteristicas que distinguem Almodóvar de qualquer  outro diretor, como por exemplo as cores vibrantes: laranja, vermelho, móveis de cores fortes, os planos da câmera inconfundível, a trilha sonora intrigante, as fotografias misteriosas, os segredos, mistérios profundos, dramas, assuntos delicados retratos de forma natural.

O filme é passado em feedbacks para explicar a história de cada personagem e a maneira com que suas histórias se cruzam, tudo passa a se encaixar, acompanhando os acontecimentos de seis anos antes, quando a filha do médico, Norma (Blanca Suárez), sofre uma traumática experiência envolvendo o jovem Vicente (Jan Cornet) e a forma com que seu pai reage a isso.

 Vale apena conferir o novo filme de Almodóvar. Os que gostam de Almodóvar sem dúvida vão se entregar a esse suspense, sem dúvida. A pele que habito é envolvente, ao meu ver, Almodóvar resgatou o que havia se perdido em Abraços Partidos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Crítica: Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

Confesso que comédia romântica não é o que me atrai, mas vindo do diretor Woody Allen, coisa ruim não seria.
"You Will Meet A Tall Dark Stranger", (2010) conta a história de dois casais: Alfie e Helena (Anthony Hopkins e Gemma Jones) e Sally e Roy (Naomi Watts e Josh Brolin), ambos casais estavam infelizes com a situação afetiva, Alfie abondona sua esposa Helena depois de 40 anos de casamento, pois passa a se achar um jovem e quer aproveitar cada segundo de sua vida como um menino. Casa-se com uma ex garota de programa Charmaine (Lucy Punch), bem mais jovem que ele, e a moça aproveita a paixonite do homem para renovar seu guarda-roupa e aproveitar do velho.
Sally, filha de Alfie está infeliz com seu casamento, porque seu marido - um escritor que já passou o apse de fama - não possui uma renda que dê para o casal e também a moça acaba se apaixonando pelo seu chefe Greg (Antonio Banderas). Sally, cada vez mais encantada com o seu chefe que a trata extremamente bem, "cai do cavalo" ao ver que o mesmo nunca a viu com outros olhos e acaba se envolvendo com a sua amiga.

Seu marido sem saber de nada, passa a observar a "moça que só veste vermelho", uma vizinha simpática e quando vê, os dois estão completamente apaixonados.


Woody Allen com seu estilo peculiar vai desnudando as consequências das atitudes dos atores, aos poucos.
Um destaque especial para Helena (Gemma Jones), a interpretação dela foi ótima, com uma carga dramática no olhar, ela vai perdendo a realidade e entrando em um mundo que a torna uma pessoa mais esperançosa, após passar tarde com Cristal, uma vidente charlatona.

O filme vai tomando uma direção surpreendente, a narrativa vai tomando um caminho inverso e Woody Allen consegue fazer com que o filme transmita uma sensação de "cadê o final feliz?" e quebra esse paradigma de comédia romântica com final feliz.
Os caminhos que passam ser traçados pelos personagens, são caminhos sem volta e fica muito claro no filme que VOCÊ NÃO VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS NESSE FILME!


A frase do começo do filme: A vida é cheia de Som e Fúria, e, no final, isso não significa quase nada." William Shakespeare, fica clara quando o filme acaba.
Woody Allen consegue tornar viva essa frase através do filme, com cada desfecho de cada história.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Crítica: A culpa é do Fidel




Julie Gavras, diretora do filme "La faute à Fidel", conseguiu retratar muito bem de uma maneira sensível a visão de uma menina de 9 anos, Ana (Nina Kervel-Bey), sobre o Comunismo.
Ana de La mesa (Nina Kervel-Bey) mora em Paris e leva uma vida regrada. Estudante de uma Escola Católica, possui avós conversadores de classe alta. Seus pais após a morte de seu tio que era militante na Espanha, com a vinda de sua tia e prima para sua casa, reacendem a chama da militância.
Ao voltar de viajem do Chile, logo após a eleição de Salvador Allende os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo. A menina é a que mais sente essa mudança. Seu irmão François, se acostuma rapidamente com a nova realidade e até gosta da forma em que é dada essa mudança.
Seus pais ficam mais engajados politicamente, mudam para um apartamente pequeno, mudam seus hábitos, o círculo social também muda. Com frequência os comunistas se reúnem no apartamento e discutem sobre a militância.
Ana fica confusa, se depara com uma realidade muito diferente do que está acostumada.
Seu conforto foi tirado, a alimentação muda, os valores de seus pais batem de frente com a pequena cabeça da menina e ela resiste a nova situação.
O atrito entre eles é constante, principalmente com o seu pai que a apelida de pequena-múmia (é como os chilenos chamavam os reacionários em seu país).
O filme deixa claro a confusão mental que a menina enfrenta, sua babá induz a idéia que os Comunistas são "barbudos vermelhos" querem uma guerra nuclear e querem roubar as casas e os bens das pessoas boas. Ana fica com isso na cabeça e começa a questionar isso.

O convívio com os comunistas a deixa intrigada, a pequena Ana vai aos poucos começando a questionar suas próprias crenças e certezas o que, obviamente, começa a fazê-la confrontar os reacionários que a influenciavam, principalmente as freiras católicas.
Suas babás mudam constantemente (são refugiadas de guerra ajudadas pelos pais), com cada babá ela aprende algo novo e isso a intriga muito mais. A política internacional atinge a menina em vários aspectos, desde as babás até a proibição de ler Mickey Mouse (seu pai o considera uma facista), até a tomar coca-cola ou qualquer outro produto vinculado ao imperialismo norte americano.
A diretora Julie Gavras, sendo filha de franco-grego Constantin Costa Gavra, só poderia mesmo demonstrar essa inclinação política. Julie, cineasta de esquerda, retrata como ninguém a cultura de esquerda dos anos 60 e 70, mas pelos olhos dos filhos dos militantes o que é algo muito interessante, pois como toda criança Ana não tem receio em pergunta (seja pra quem for) para que suas dúvidas sejam tiradas.
A culpa é do Fidel, não deixa de ser uma modalidade (cômica) que se destina a demonizar a esquerda, apontá-la como todo mal da humanidade, um idéia de um bando de rebeldes desorientados.
 Aos poucos, Ana vai vendo que a realidade não é como os pequenos-burgueses ou até mesmo as pessoas simples (que são condicionadas pelo sistema), retratam o Comunismo e no final ela se convence que existe algo além do "eu, eu eu" que ela está tão acostumada a falar (o tal do individualismo).
Julie Gavras, fez um apanhado histórico sem perder a ternura e conseguiu transformar "A culpa do Fidel" em um filme sensacional.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Crítica: Filhos do Paraíso


"Bacheha-Ye aseman" (Filhos do Paraíso), é um filme dirigido pelo Majid Majidi e lançado no ano de 1997 no Irã, foi candidato ao Oscar 1999 de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 88 minutos de filme, é retrato a história de Ali (Amir Farrokh Hashemian), que é um menino de 9 anos proveniente de uma família simples e que vive com os pais e uma irmã Zahra (Bahare Seddiqi).
Um dia ele perde o único par de sapatos da irmã e, tentando evitar a bronca dos pais, passa a dividir seu único par de tênis com ela, ambos passam a revezar o tênis.  Enquanto isso Ali começa a treinar para obter uma boa colocação em uma corrida que terá como prêmio uma quantia dada para comprar um novo par de sapatos.
De uma forma delicada o diretor Majid Majidi demonstra a precariedade que a maioria das pessoas do Irã se encontram, mostra bem sua cultura, as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora dentre outras questões.

Majid Majidi em uma entrevista a um jornalista expõe as dificuldades que os cineastas tem para produzir filmes no Irã.
Desde que Ahmadinejad chegou ao poder em 2005 o cineasta não filmou mais. Para se produzir um filme no Irã há muitas questões envolvidas. Sem permissão do governo, você não filme, o governo detém um monopólio sobre os estoques de películas e equipamentos, logo todo cineasta tem que ir até eles para alugar esse equipamentos. O cinema só exibe o que o governo deixa, e os sete canais de TV são estatais.
O governante foi eleito duas vezes - uma vez em 2005 e depois em 2009 sob suspeita de fraude - concentrou tudo em suas mãos, principalmente os meios de comunicação conforme sua ideologia, exerce um poder coercitivo sob os indivíduos, reprimindo totalmente quem se opõe a sua maneira de fazer política e seus métodos utilizados.



Mesmo sem a liberdade de fazer filmes, principalmente se possuir caráter político, o filme Filhos do Paraíso retrata um Irã que não se mostra com muita igualdade entre os indivíduos.
A pobreza em que a família de Ali se encontra, a grande dificuldade em pagar o aluguel, comida escassa na família, precariedade na questão da saúde como é retratado no fato da mãe de Ali estar doente e não ter alternativas de buscar auxílio em hospitais e a lutando diariamente para manter suas necessidades básicas atendidas.
Apesar das dificuldades sofrida pela família, o filme mostra um lar aonde existe amor e apoio de todas as partes. Os filhos que são extremamente novos mas já possuem consciência que a situação está difícil e não querem preocupar os pais com a questão da perda do par de sapatos de Zahra, a solidariedade entre os vizinhos quando a mãe de Ali cozinha para o casal de velhinhos que mora ao lado.
O que marca nesse filme é a questão da honestidade. Quando o pai do garoto está cortando em cubos o açuçar que não o pertence, a filha está preparando chá para o pai, nota a falta de açucar na casa e acaba dizendo:
- Tem bastante açucar ai.
O pai diz "Mais esse não é nosso!"
Em outra cena podemos observar também a questão da honestidade, quando a garota Zahra deixa cair a caneta que ganhou do irmão, a colega de escola pega no chão e no dia seguinte a devolve - detalhe que a menina que encontra a caneta também é de família carente e acaba gostando da caneta.

Como os protagonistas desta sua obra, o diretor cresceu vivendo com seus pais e quatro irmãos em um único quarto. Segundo ele explicou:
"Em toda sociedade, existe sempre o problema de 'ter' ou 'não ter', o que cria um monte de conflitos. No momento, esse é o problema mais significativo de nossa sociedade. Nós estamos oscilando entre problemas econômicos e falta de justiça social. É missão da arte continuar a atacar esses problemas, enquanto eles permanecerem."Em "Filhos do Paraíso", adultos e crianças, ainda que pobres, não abdicam de sua dignidade.
A honestidade em meio a pobreza é marcante no filme.

Filhos do Paraíso é um filme extremamente interessante que retrata questões que envolvem todos nós e mostra uma cultura totalmente diferente que estamos acostumados, mas aonde a dignidade e o caráter de alguns mostra a diferente em um sociedade tão suja.

Para mim, é um dos melhores filmes iranianos!

domingo, 15 de maio de 2011

Crítica: Janela Indiscreta



Quando se pensa em Hitchcock consequentimente se pensa em suspense. Não é a tôa que ele é considerado um dos grandes diretores que possui o título de: mestre do suspense.
Dirigiu filmes como Festim Diabólico (1948), Psicose (1960) e Pássaros (1963). Em Janela Indiscreta (1954) expõe o público ao vouyerismo já existente em todos aqueles que assistem a um filme, mas que com o uso da câmera subjetiva, nos prendendo em seus filmes.

Em Janela Indiscreta, o fotógrafo profissional J.B. Jeffries (James Stewart) está em uma cadeira de rodas por causa de uma perna quebrada e é obrigado a ficar preso dentro do seu apartamento. O seu tédio vai aumentando, surge uma obsessão em observar a vida dos seus vizinhos pela janela.  Quando começa a suspeitar que o vizinho vendedor possa ter matado a própria mulher, Jeffries conta com a ajuda de sua namorada Lisa (Grace Kelly) para desvendar esse mistério.

Esse filme nos dá uma impressão de estarmos em um espetáculo de teatro, é como se as cortinas estivessem sido abertas e a 'vida alheia' seria o grande espetáculo.
A câmera subjetiva é o plano de câmera mais importante nessa obra. É ela que nos coloca sob a ótica do personagem principal, conferindo-nos a própria pele de um vouyer. Como um grande diretor que é Hitchcock não comete o erro de deixar apenas a visão da câmera subjetiva, ele sempre mostra a reação de “Jeff” a tudo que ele está vendo. Devido a esse fator o público pode se identificar com o herói.

É com a câmera subjetiva que testemunhamos outro ponto interessante no filme de Hitchcock: as sub-tramas perpetradas pelos vizinhos do personagem principal. Há a bailarina amadora, o casal recém-casado, a mulher solitária, o pianista, o casal com o cachorro, a velha artista plástica excêntrica e o vendedor suspeito com sua mulher enferma.
A surpresa acontece quando o público é arrebatado por algo que não esperava que acontecesse, enquanto que o suspense é algo que o público conhece, mas que a personagem desconhece. Exemplo de surpresa nesse filme em particular é a seqüência em que todas as suspeitas pareciam infundadas e de repente um grito alerta para a morte inesperada do cachorro. O suspense bem explícito é a seqüência onde a personagem de Grace Kelly está dentro do apartamento do vizinho e apenas o público, juntamente com Jeff e sua enfermeira sabemos que o possível assassino chegou a casa.

Lisa (Grace Kelly), no decorrer do filme cresce como personagem, quer mais do que tudo ajudar seu namorado a desvendar o mistério do vizinho vendedor, ela entra dentro da trama e acaba agindo de maneiras que não são muito esperadas pelo público, pois no início do filme Lisa tem um extereótipo de patricinha, fútil, despreocupada com tudo que não seja ela própria.


Durante seus 112 minutos, Janela Indiscreta é um filme que possui um enredo impar, pois oferece uma trama reflexiva, envolvente, que brinca com a imaginação e com a realidade o 'pode ser', 'será que é?'.
É quase inevitável não ser levado a concordar com Jeff, já que os desdobramentos da história são filtrados pelo seu olhar, mas Hitchcock não se vale de maniqueísmos, e Stewart constrói um personagem fronteiriço entre a bondade e a implacabilidade. Na sua necessidade de distração, Jeff acabou por se agarrar ao caso que lhe surgiu da janela de sua casa, mesmo que estivesse cometendo um terrível engano.

Com um fim interessante, Janela Indiscreta é um 'clássico', por suas qualidades mais que explícitas.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

As mulheres de Almodóvar parte I



  Todas as mulheres retratadas em uma só, assim se poderia caracterizar a maioria dos personagens diretor e roteirista tão singular Pedro Almodóvar.
   O cinema tenta de todas as formas suprir os desejos do público amplo, alimentando, construindo os sonhos da vida contemporânea. Contudo Almodóvar procura através de fatos do cotidiano sempre com autenticidade, atitudes polêmicas, fugindo totalmente do comum, intrigando as pessoas com o que relata e da forma relatada, as mais diversas situações em seus filmes.
A ironia é a marca da sua autonomia. Comédia, drama, melodrama sempre bem representados através de personagens femininas das mais diversas características.
   Não basta ter sensibilidade e sagacidade no campo artístico, tem que possuir inteligência, talento, determinação e essas características estão presentes no trabalho de Almodóvar.
   Inicialmente, registra-se que, a matéria prima de seus filmes é a classe média espanhola, no início da década do consumo, com seus dramas e misérias.
   Almodóvar, autor de dezesseis longas metragens, ganhador do Oscar em 2000 como melhor filme estrangeiro com “Todo sobre mi madre”, seu primeiro longa metragem foi em 1980 com “Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón”. Suas abordagens em seu primeiro filme provocaram escândalo e admiração de amplos setores na Espanha, devido a poucos recursos financeiros, desenvolve o filme com o que tem, obtendo ajuda de amigos para concluir esse trabalho. Seu penúltimo filme foi Volver (2008), um filme que retrata três gerações de mulheres que sobrevivem ao vento, ao fogo, à loucura, à superstição e, inclusive, à morte. Segundo Almodóvar“Volver não é uma comédia surrealista, apesar de parecer em alguns momentos. Vivos e mortos convivem sem estridências, provocando situações hilariantes ou de uma emoção intensa e genuína. Volver é um filme sobre a cultura da morte.”

Pedro Almodóvar quebra paradigmas, buscando retratar as mulheres de uma forma diferente, sem seguir o padrão da mídia em geral.
   Solidão, ironia, ousadia o acompanham em suas relações e simultaneamente, compõe sua personalidade que é transmitida em seu trabalho.
   Fugindo da concepção Hollywoodiana de que o cinema é apenas entretenimento e outras leituras não signifique muita coisa, Almodóvar em meados de 1985 surgiu, inovando, fez uma reciclagem das produções do seu período para mostrar suas novidades, um estilo diferente de fazer cinema, causando certo desconforto em relação aos rótulos impostos pela crítica e mídia em geral. Tendo como temas a sexualidade livre, o resgate do cotidiano, as pessoas comuns, rejeitando-se o “cinema de arte” dos anos 50. Retratando a sensualidade na cultura Espanhola, no tom de voz, nas danças flamencas, nas touradas – como no filme Matador (1986)- buscando mostrar o feminino de uma forma livre, simples ao mesmo tempo detalhada.
   Nas suas obras aparecem personagens ou atitudes não convencionais, quebra de valores morais, paixões excêntricas, compondo personagens atípicos e inusitados que fogem as regras tradicionais do comportamento humano.
   A questão do gênero é bem presente, o feminino e o masculino, contudo nesse projeto a questão principal é como a mulher é retratada, suas atitudes em relação ao círculo social em que pertence, como Almodóvar mostra isso, a singularidade dele, pois no cinema Hollywoodiano a mulher em geral é vista como símbolo sexual e nada mas, além disso.
   Filmes com histórias girando em torno de problemas de relacionamento, sobre amor-desamor, ciúmes, traição e de não colocar peso político em primeiro plano. A captação do cotidiano, problemas que parecem sempre intransponíveis, reconhecendo o problema, mas algumas vezes o encarando satiricamente, personagens muitas vezes toxicômanos, a dependência pelas drogas mostrada na maioria de seus filmes, uma eclosão de vários estilos, bem expressivos, havendo uma liberdade nas narrativas (...)

Texto extraído do meu pré-projeto de iniciação científica.